Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores
No meio de tantas notícias econômicas negativas, o Brasil se saiu bem na liderança de uma grande negociação diplomática na Organização Mundial do Comércio (OMC), que reuniu mais de 140 países em Bali, e conseguiu aprovar a Rodada de Bali. O autor da proeza é o embaixador Roberto Azevêdo, recém-nomeado Diretor Geral da OMC, lembrando o desempenho solitário de Ayrton Senna, ao conduzir a reunião para uma conclusão inesperada, com maestria e serenidade, contra todos os prognósticos desfavoráveis. O Brasil tem a sorte, não habitual, de deixar brilhar algum expoente de sua cidadania. É o caso do embaixador Azevêdo, por sua extrema habilidade de haver contornado os mais delicados e difíceis obstáculos, a fim de alinhar interesses quase inconciliáveis entre emergentes e países maduros.
Ainda vai demorar até que os países ratifiquem o Tratado em seus congressos. Mas o Acordo já aponta ganhos importantes no desembaraço mais rápido de mercadorias, especialmente os perecíveis agrícolas, reduzindo tempo e papelada nos procedimentos alfandegários. Há também cláusulas que controlam melhor a formação de estoques especulativos de alimentos e outros, a título de segurança alimentar ou motivos diversos. Mas o principal triunfo da Rodada de Bali é haver dado sobrevida à própria OMC. Este resultado a favor da Organização como efetivo fórum do comércio mundial é o que a economia global precisava para continuar remando na direção de favorecer e fomentar as trocas entre todos os países. A diplomacia brasileira marca um gol de placa e o Brasil dá mais um passo na direção de se firmar como nação politicamente confiável. O risco político do Brasil, visto de hoje, parece exagerado.
Ed.329