Por Marcel Caparoz / Everton Carneiro, da RC Consultores
No último Relatório Trimestral de Inflação, divulgado na segunda-feira (30 de setembro de 2013), o Banco Central indicou inflação (IPCA) de 5,8% para o final de 2013. A previsão é 0,2 p.p. (pontos percentuais) acima da que constava no último relatório. Para 2014, a previsão é de 5,7%. O relatório aponta que, por um lado, a recente desvalorização cambial (10,6% acumulada em 2013) deve inflar os preços, o que já começa a ser sentido nos índices de preços do atacado e deve chegar ao consumidor, ainda que parcialmente, em breve. Em sentido oposto, os altos índices atingidos no segundo semestre de 2012 fornecem uma base de comparação mais elevada, o que deve facilitar a contenção de preços.
No entanto, é preciso observar a grande, e crescente, distância entre preços administrados e livres no IPCA. Há cerca de um ano, em agosto de 2012, os preços administrados apresentavam variação acumulada em 12 meses de 3,15%, enquanto os livres, 5,97%. Em agosto de 2013 a variação acumulada em 12 meses dos preços livres alcançou patamar de 7,65%, acima do teto da meta, enquanto os preços monitorados caíram para meros 1,26%, a menor variação acumulada da série histórica, iniciada em 1994. A pressão por um reajuste nos preços da gasolina é a mais notória, mas não a única força que tenta impulsionar os preços administrados. Diante de níveis tão baixos, é improvável que o governo possa segurar tais preços indefinidamente. Um ajuste dos preços administrados ao longo de 2014 para um patamar de 4,0% levaria a inflação para 6,6%, acima do teto da meta. O mercado já absorve esta dificuldade em conter a inflação, com elevação das cotações dos contratos futuros de DI. O vencimento (janeiro de 2014) passou de 9,24% há uma semana para 9,38% hoje. Se tal cenário se confirmar, será necessário um ajuste ainda maior da Selic, levando a taxa para a casa de dois dígitos, o que comprometerá ainda mais o crescimento econômico em 2014.
Ed.283