Por Yan Cattani e Flávio Calife, da área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista SCPC
Segundo o IBGE, a produção industrial caiu 3,2% em 2014, o pior resultado em 5 anos, bastante aquém do inicialmente previsto pelo mercado. Projeções realizadas no primeiro boletim Focus do BC do ano aguardavam alta de 1,5% para o setor. Mas, ainda que o resultado previsto se consolidasse, seria praticamente 1 p.p. abaixo da média histórica, de 2,4%, contabilizada entre 2004 e 2013.
O grande problema da indústria continua sendo a tal “falta de competitividade”. Este fator foi evidenciado após a deflagração da crise internacional no biênio 2008-2009. De 2004 até 2008, a média de crescimento do setor era 4,7%. Com exceção do ano de 2009, que apresentou queda de 7,1% no período, o crescimento médio desde 2010 até 2014 foi de apenas 0,7%.
A competitividade é bastante afetada pelo alto custo do trabalho que possuímos atualmente. Até 2009 pudemos até observar compatibilidade de um crescimento da indústria com expansão dos rendimentos. Mas, após a eclosão da crise financeira, a produtividade brasileira diminuiu, enquanto os rendimentos continuaram aumentando. Como a indústria encontra bastante dificuldade de repassar preços no produto final uma vez que o setor industrial concorre fortemente com produtos importados, as margens se contraem, minando as possibilidades de crescimento do setor. O efeito é ainda mais deletério se incluirmos o efeito inflação nestas contas.
Para este ano, o cenário macroeconômico dificilmente colaborará para uma retomada vigorosa do setor. Os custos do trabalho ainda seguem altos, os apertos monetário e fiscal devem agir na contramão dos investimentos dificultando as empreitadas da indústria. Assim, a recuperação por ora esperada pelo mercado, de 0,5%, se concretizada, será ocasionada principalmente devido a um efeito base de comparação, dado o péssimo desempenho obtido em 2014.