Por Flávio Calife, Bruna Martins e Yan Cattani, da área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista SCPC
O primeiro relatório Focus de fevereiro divulgado hoje pelo Banco Central mostra que a perspectiva dos analistas sobre as principais variáveis da economia piorou com relação às projeções realizadas no início do ano. A expectativa de crescimento da economia para este ano passou de 0,5% para praticamente estabilidade, 0,03%, enquanto as projeções para o IPCA, indicador oficial da inflação, passaram de 6,56% para atuais 7,01%, mudanças que podem ser consideradas significativas dado o pequeno intervalo entre os relatórios.
Uma possível explicação para a brusca mudança das expectativas se deve à divulgação da ata do Copom semana passada, que piorou o humor relativo à inflação passando a contemplar um número mais “realista” para o conjunto de preços administrados por contrato e monitorados - variação de 9,3% em 2015, contra 6,0% considerados na reunião de dezembro. A projeção considera elevação de 8% no preço da gasolina, de 3,0% no preço do gás de botijão, de 0,6% nas tarifas de telefonia fixa e de 27,6% nos preços da energia elétrica.
Essas projeções em conjunto com a alta recente do dólar praticamente acabam com a possibilidade de recuo da Selic, hoje em 12,25%. Apesar do relatório de hoje projetar uma alta da taxa para 12,5%, o cenário pode exigir uma elevação mais acentuada da taxa, fator que pode desincentivar ainda mais os investimentos. O quadro pode ainda se agravar com o provável racionamento de água e de energia. É muito difícil mensurar o impacto do racionamento em alguns setores da economia, como o setor de serviços, por exemplo, que representa mais de dois terços do PIB. A depender dos efeitos do racionamento, algumas consultorias já têm divulgado expectativas, apontando queda de 0,5% a 2% do PIB em 2015. Não será surpresa caso as próximas projeções tragam notícias mais pessimistas.