Por Bruna Martins e Flávio Calife, da equipe da Boa Vista SCPC
Não há melhoras nas expectativas para o cenário macroeconômico no curto prazo, pelo contrário. É o que mostra o Relatório Focus divulgado hoje pelo Banco Central. As projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) se deterioram a cada medição, enquanto a expectativa para a inflação continua sua escalada mesmo após ultrapassar o teto da meta.
Alguns fatores comprometem ainda mais este cenário. A provável redução da atividade econômica desaquece o mercado de trabalho e reduz a confiança dos consumidores e empresários. Sem expectativa de retorno que compense o investimento na produção de bens ou serviços, os agentes econômicos optam pela liquidez de seus ativos, diminuindo a oferta de emprego e pressionando o rendimento dos trabalhadores. Somada à alta dos preços e do dólar, a renda disponível tende a desacelerar ao longo do ano, comprometendo o consumo das famílias e, consequentemente, o próprio desempenho da economia.
O novo ciclo de aumento da taxa básica de juros, ainda sem atingir o objetivo de segurar a subida dos preços, encarece a tomada de crédito, inibindo mais o consumo e os investimentos. O indicador de Demanda de Crédito dos Consumidores da Boa Vista SCPC confirma a tendência de diminuição na procura por crédito, ao apontar um recuo de 8% na variação acumulada em 12 meses.
A queda da renda disponível anunciada tira o fôlego do consumo das famílias, principal responsável por segurar o crescimento da economia nos últimos quatro anos. Com o consumo do governo comprometido pelo ajuste fiscal, investimentos em queda e balança comercial oscilando com os efeitos do dólar, a queda no consumo privado é fator agravante no resultado da atividade econômica no ano.