Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

O ano que se encerra também leva embora a ameaça de uma recaída iminente da economia mundial. É a auspiciosa esperança de menor volatilidade nos mercados cambiais em 2014. Essa é a notícia boa da virada de ano. Mas que esconde os remanescentes desequilíbrios nos sistemas financeiros das principais economias, inclusive da China. As finanças mundiais ficaram reféns do juro zero, repercutindo nos mercados de commodities como especulação altista. Esse quadrante do ciclo foi oficialmente encerrado com o recente anúncio da retirada gradual de estímulos de $85 bi/mês pelo FED. Será uma mudança feroz, ainda que gradual. Pode trazer novos choques, pois há combustível para detonar novas desconfianças. O ajuste verdadeiro da economia mundial só se dará quando se estabilizar a trajetória das dívidas soberanas acumuladas e se reduzir bastante a dívida das famílias nas economias maduras.

No Brasil, o novo ano nasce assando duas batatas quentes: a necessidade crescente de financiamento do setor público (leia-se, maior déficit fiscal na União e na Federação) e expansão da necessidade de se financiar o setor externo. Dois déficits conjugados. Sintoma de dois apertos, o de juros mais altos e de câmbio desvalorizado. Um quadro eleitoral em que candidatos farão discursos confusos sobre o fim da bonança externa e do gasto fácil. A oposição pedirá um rigor equivocado, ao insistir em maior superávit fiscal primário e mais juros, desatenta ao dano que essa fórmula tem causado ao setor produtivo nacional, já por duas décadas, pelo torniquete de impostos e de encargos financeiros, mais agressivo do que em qualquer outra economia do planeta. Somos campeões mundiais em tortura financeira aplicada a quem produz. O governo Dilma não conseguiu atacar esse problema central do imposto e do juro alto. Tentou, mas falhou. O erro de Dilma tem uma explicação que está no DNA do seu governo: a despesa pública total, que aumentou escandalosamente em cada um dos seus anos de mandato, obrigando a se praticar uma escalada tributária que mata a geração de caixa das empresas. Se se pretendesse implantar a socialização dos meios de produção, a fórmula não seria mais adequada. A estatização veloz das fontes de financiamento do setor privado é patente. E por ser fórmula de gestão pública ineficiente, quase por definição, esse caminho sem saída impede a expansão do investimento total. E do crescimento. O debate político de 2014 poderá trazer luz a esse impasse entre equívocos. As manifestações de junho de 2013, as verdadeiras, trouxeram um pedido maior da sociedade: “Façam direito”, padrão FIFA, se possível! Gestão pública eficiente e uma meta rigorosa de controle do gasto público total: basta essa regra. O Brasil tem um desafio mais simples de ajustamento do que o das economias maduras superendividadas. Tomara que, em 2014, encontremos o caminho do que de fato queremos. São nossos votos a você que nos leu com atenção e paciência este ano. Voltaremos em 06 de janeiro.

Ed.339