Por Paulo Rabello de Castro e Marcel Caparoz, da RC Consultores
O prolongamento da estiagem no Centro-Sul do país (a situação nas áreas de plantio no Sul do país é inversa, por causa do excesso de chuvas, mas com efeito semelhante) começa a projetar um cenário de adversidade na oferta futura de grãos, relativa à safra 2015. Os preços de alguns grãos, especificamente soja, já apontaram alguma reação – 5% de alta nos 4 últimos leilões – indicando aos agricultores brasileiros um comportamento de preços menos desfavorável nos meses de comercialização. Distintamente de anos anteriores em que, a esta altura, uma boa parte da safra já estava semeada e, inclusive, pré-vendida, com trava de preços, desta vez menos de 10% da área semeável no Mato Grosso, maior produtor, se encontra plantada. Os agricultores esperam pela chuva, que ainda não veio em meio a um intenso calor em toda a região.
O efeito desse fenômeno climático sobre o abastecimento e comportamento futuro dos preços nos supermercados deveria ser matéria de preocupação da equipe econômica do próximo governo. A cadeia produtiva das carnes será afetada – já vem sendo, aliás – com seguidas altas nos preços das carnes preferidas pelo consumidor brasileiro. O impacto no IPA, e em seguida, no IPCA, não tardará a empurrar a trajetória da inflação ainda mais para fora do limite superior da meta. Os defensores da polêmica alta de juros para controlar a demanda privada e os preços em geral encontrarão “justificativas” para novas subidas da Selic. E a balança comercial poderá contar com menor oferta de produção agropecuária para suprir divisas necessárias à cobertura do crescente déficit nas contas correntes externas.