Como já era esperado, ontem a presidente do Federal Reserve (Fed) mudou o tom do comunicado ao mercado. Diante de boas previsões de crescimento do PIB americano em relação a outras economias desenvolvidas e com uma taxa de desemprego em 5,5%, Janet Yellen não pronunciou em seu discurso a palavra “patient”, indicando ao mercado que o Fed está mais próximo de uma política monetária pouco mais restritiva, mesmo que em um ritmo mais lento do que o esperado na última reunião. O aumento até pode acontecer em junho, mas a intensidade da alta deve ser menor do que o mercado esperava.
Apesar de uma revisão moderada para a estimativa da atividade econômica, algo entre 2,3% e 2,7% para 2015, o Fed espera que a taxa de desemprego atinja 5% ainda este ano e que a inflação convirja lentamente para 2%, alicerçando o início do ciclo de aperto monetário americano.
Este pronunciamento e as novas projeções apresentadas vão de encontro com a avaliação da OCDE de que o fortalecimento do dólar ante outras moedas pode inibir uma elevação na perspectiva de crescimento da economia americana, uma vez que pressiona as exportações e incentiva as importações. Para a organização, o Fed adiará a elevação dos juros pelo menos até a Europa apresentar algum sinal sólido de recuperação econômica e o euro voltar a se apreciar perante o dólar.
No Brasil, a mudança no comunicado deve trazer certo alívio à política monetária, mesmo que temporário. A depreciação acelerada do real deve dar uma trégua, reduzindo os efeitos sobre a inflação. Com isso o Banco Central brasileiro ficará menos pressionado a elevar os juros básicos nas próximas reuniões. Não é hora de ter paciência. É o momento de se aproveitar o tempo extra para acelerar os ajustes, principalmente os fiscais. Mas o cenário político não ajuda. Será que temos esse tempo para perder?