Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

Após várias tentativas de capturar interessados na execução do dispendioso projeto, finalmente o governo Dilma decidiu não gastar mais recursos (inclusive políticos) para realizar o sonho do trem de alta velocidade entre São Paulo, São José dos Campos, Campinas e Rio de Janeiro. Embora a obra estivesse projetada para servir a uma área geográfica onde concentra cerca de 40% do PIB brasileiro, no valor inicial de R$35 bilhões, porém com chance de alçar até a R$60 bilhões, segundo cálculos alternativos de interessados, não despertou interesse suficiente dos diversos grupos brasileiros e estrangeiros que estudaram associar-se para executar a empreitada.

O Brasil ganharia muito se fizesse agora um estudo complementar: sobre as principais e verdadeiras razões de tantas desistências importantes. Aqui só podemos apontar indícios. A falta de confiança nas regras do "dia seguinte", ou seja, a efetiva remuneração dos bilhões a serem despendidos pelo setor privado, diante dos enormes riscos regulatórios e políticos percebidos pelos empresários, deve ter sido o motivo essencial da falta de interessados. Razão associada à primeira é a Falha de Projeto, algo comentado ainda ontem sobre a compra de equipamentos com especificação equivocada na hidrelétrica do Rio Madeira. Quem define mal, constrói duas vezes (ou mais). Terceira razão seria aquela de acomodar interesses de legitimidade duvidosa, que tem poluído decisões de investimento em praticamente todas as áreas onde o governo tem seu dedo metido. A atuação de um Conselho de Gestão Fiscal, previsto no artigo 67 da Lei de Responsabilidade e até hoje irresponsavelmente olvidado de ser regulamentado, decerto teria ajudado a prevenir a imensa perda de tempo e de recursos de todos.

Ed.247