Por Yan Cattani, da área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista SCPC
Os dados da indústria a serem divulgados amanhã pelo IBGE deverão finalmente mostrar elevação da produção. Não devido à retomada da atividade econômica, mas principalmente pelo efeito base de comparação. A média estimada pelo mercado já aponta alta de mais de 1% em janeiro, na análise dos dados dessazonalizados. A alta ainda deve se confirmar com o levantamento de alguns indicadores antecedentes da economia, como vendas de papelão ondulado (utilizados para encaixotamento de produtos) e o fluxo pedagiado de veículos nas estradas (fretamento de mercadorias das indústrias até as lojas), que obtiveram elevação em janeiro.
As expectativas, no entanto, não são muito boas para o principal ramo industrial, o automotivo. Dados de hoje da Fenabrave sobre as vendas de veículos continuam batendo recordes negativos: no primeiro bimestre de 2015 as vendas totais de automóveis acumulam queda de 23,1%, o que deve influenciar o ritmo esperado da produção. Ainda que paliativas, algumas medidas podem contribuir para amenizar as perdas no comércio e, consequentemente, na indústria.
A manutenção do comércio de veículos entre Brasil e México nos moldes atuais deverá prolongar o bloqueio de importações imposto pelo governo brasileiro há 3 anos, favorecendo a produção nacional. Outra importante medida é a prorrogação por 12 meses do financiamento para aquisição de caminhões (proposta adicionada pelo governo à Lei dos Caminhoneiros, sancionada ontem), ramo recentemente prejudicado pela reversão do Programa de Sustentação de Investimentos (PSI, do BNDES).
Mesmo assim, a baixa demanda dos consumidores tem influenciado demais as expectativas de comércio de veículos. As projeções da Fenabrave para o setor em 2015 mostram que o cenário está se deteriorando: hoje a entidade revisou sua estimativa de -0,5% para -10% nas vendas. Enquanto o comércio para o setor não mostra recuperação, o horizonte industrial também fica comprometido, já que dificilmente a produção será retomada sem a respectiva “desova” dos estoques pelas revendedoras.